Apesar da disputa evolução versus design, quais seriam as diferenças entre a inteligência e o processo evolutivo? O que nós devemos esperar de cada um e o que não devemos esperar? Em qual explicação os dados da natureza se encaixam melhor?
À parte de definições, padrões são formados por comportamentos. A inteligência e a evolução possuem comportamentos distintos e, portanto, produzem padrões distintos para a maioria dos casos. Quais seriam essas diferenças?
Contínuo versus Discreto
A evolução não dá saltos. Ou pelo menos é uma tendência dominante que ela seja gradual e cheia de estados intermediários. A inteligência, por outro lado, é orientada a uma causa final. Os saltos são até uma regra. Como consequência, os padrões evolutivos são contínuos e os padrões de design são discretos (“ilhas” de variedades).
Imediatismo versus Planejamento
Em sua orientação a causa final a inteligência é independente de retorno ou vantagem imediatos, por isso ela tem a habilidade de considerar um objetivo futuro. A evolução, por outro lado, é a prevalência de características favorecidas por circunstâncias imediatas. Não existe qualquer reserva ou “investimento”. Por isso, os padrões evolutivos tendem a ser simples enquanto os padrões de inteligência possuem profundidade.
Busca semi-exaustiva versus Aprendizado
A evolução procede por “acertos e erros”. Isso também acontece com a inteligência e por isso os teóricos tentam equipará-las. Mas a inteligência é radicalmente diferente no tratamento de erros. A partir de um erro, um vasto conjunto de possibilidades é eliminado. Por isso, ela não depende de “tatear no escuro” para se aproximar de soluções. Já a evolução não possui qualquer freio e pode “andar a esmo” indefinidamente.
Coincidência versus Portabilidade
A inteligência ainda possui memória e pode generalizar soluções. Uma mesma solução de design é generalizada para vários casos e estruturas (portabilidade). Em perspectiva evolutiva, as soluções semelhantes sem origem comum são coincidências chamadas de “convergências evolutivas”.
Creio eu que essas sejam as diferenças mais fundamentais. Enfim, alguma semelhança que há entre evolução e o design está reportada em dois textos interessantes:
Nota: obviamente a inteligência é capaz de reproduzir todos os padrões evolutivos, o inverso não é verdadeiro.
Excelente artigo! Muito pertinente o tema tratado.
O trecho que me chama mais a atenção é “Busca semi-exaustiva versus Aprendizado”. Quando nós considerados um espaço de soluções, em problemas de otimização por exemplo, nós temos muito mais soluções não-ótimas. Pense em um algoritmo que procure tais soluções aleatoriamente. Considere um espaço de soluções com N dimensões, sendo x_1, x_2, …, x_N os parâmetros a serem encontrados e (x_1, x_2, …, x_N)* o ponto ótimo. Pra simplificar, considere que os parâmetros variem entre 0 e M. Se todos os pontos são equiprováveis, então a probabilidade de encontrar o ponto ótimo é P = 1/M^N.
Na prática os valore de M e N sempre serão muito grandes, porque N representa a quantidade de variáveis envolvidas no arranjo da vida e M o quanto estas variáveis variam. Consequentemente a probabilidade é muitíssimo pequena.
Mas isso não significa que o ponto ótimo não pode ser encontrado, é claro. Entretanto, dada a característica gradualista do mecanismos evolutivo, várias solução não-ótimas serão encontradas antes. Em cada ponto de solução encontrado o algoritmo terá novamente a mesma baixa probabilidade de encontrar a solução ótima, além disso, ele poderá sempre se afastar do ponto ótimo já que este mecanismo não tem inteligência e a busca ocorre somente em torno do último ponto de solução encontrado.
Mesmo diante de todas as impossibilidade a vida persistiu neste planeta. Um amontoado de coincidências. Um verdadeiro milagre…
É exatamente neste ponto que sabemos que o darwinismo é falso, porque esgotaria os recursos probabilísticos do universo. Isso pressupondo que existem caminhos de continuidade, que as funções não estejam em ilhas.
Sim, se pressupormos que todas as funções estão em um continuum. Se elas não estiverem, temos um outro agravante.
Grato pelo comentário.