Este é um tópico relevante para a Filosofia do Design e ficou parado esperando ser trabalhado desde 9 de Dezembro(2015). É dedicado ao amigo Matheus Carlos Nunes que inspirou sua composição.
Este texto aborda um dos principais questionamentos levantados como objeção a ideia do Design Inteligente: a atual incapacidade de completa resposta às inquirições sobre a agência inteligente, em especial a seguinte simples e ingênua questão: Quem é o designer?
Tentar responder uma pergunta desta natureza(não científica) é alimentar um debate além dos limiares da Ciência. Claro que a pergunta é retórica, não tem propósito construtivo, é sem teor ou orientação científica. Não estivemos no passado para fazer inferências neste nível, o mais alto, o nível de identidade.
Por que a questão não é Científica e não compromete a Teoria?
A ciência é a filosofia natural. Identidade é particular. A ciência trata de universais. As identidades abordadas pela ciência são identidades qualitativas(propriedades) – apesar dos casos serem de indução baseados em uma porção finita de particulares. Já as pessoas são sempre tratadas como identidades numéricas(particular).
O Design Inteligente flerta com praticamente todas as grandes questões em aberto na filosofia, não seria o problema dos Universais ou os problemas sobre identidade que ficariam de fora. Ocorre que a ciência vai tratar de conjuntos mais abrangentes, isto é, de classes conhecidas na natureza, suas propriedades e relações. Tanto por resguardar regularidade e continuidade, quanto pela presunção da possibilidade de descrever a natureza em leis gerais.
A Agência Inteligente
Dizem que a agência inteligente implica necessariamente no sobrenatural – eu sinceramente concordo que pra certas pessoas a inteligência seja coisa de outro mundo, mas é para ser exceção no caso de nossa espécie. Os seres humanos são o exemplo mais notável de agência e em Design Inference William Dembski aborda também, com exemplificações, a inteligência animal em geral.
Portanto, nós conhecemos e reconhecemos a agência inteligente, e conhecemos as características independentemente a capacidade de explicar a origem da intencionalidade, outro problema em aberto. Entretanto a agência inteligente aparenta características de uma classe fundacional, seus desdobramentos estão entre nossas intuições mais fortes, principalmente nossa percepção primitiva da intencionalidade.
Aristóteles diz que a inteligência é simples¹, não é algo que se possa dividir. É bom lembrar que é impossível que haja essa possibilidade, de agência com liberdade, e nós não façamos parte desta classe.
Como podemos ver, ainda que assumida como uma crença fundacionista, permanece como todas as outras que sustentam nossa episteme.
O Design
O design é o artifício, a alteração dos padrões naturais. Os padrões naturais são inúmeros, mas seguem determinadas tendências, o design é a quebra ou alteração desses padrões e dessas tendências. Se na natureza determinado padrão é irregular o design será sua planificação, se é regular, o design será instanciado em irregularidades e, num caso particular, o design mimetiza(imita) a natureza.
Nenhuma causa real foi encontrada para a origem do design fora da inteligência. O design, como objeto de estudo, deve necessariamente proceder de uma causa secundum fieri; as transformações posteriores na evolução dos sistemas não dão suporte empírico a qualquer indício original de configuração com padrão independente. No máximo de permutações em seus graus de liberdade.
Um bom exemplo seria o contrário do famoso órgão/membro vestigial, isto é; uma estrutura originando-se nos sistemas e, assim, demonstrando design original.
O Problema e da Identidade
Em Derrubando o Naturalismo Metodológico² é exposta a justificação de Paul Nelson que deve ser assumida para o tratamento da agência em sua exclusividade³ para o entendimento de certos efeitos que provoca no mundo como uma causa válida.
O Naturalismo Metodológico excluí a causa inteligente, isso é exposto por Meyer:
De acordo com este princípio, os cientistas devem aceitar como um pressuposto prático que todas as características do mundo natural podem ser explicadas por causas materiais sem recorrer à inteligência intencional, a mente ou agência consciente.⁴
O desenvolvimento de uma teoria para o design inteligente instanciado na realidade é atualmente o maior desafio existente na história da filosofia. Desde o neo-darwinismo, que distorce as capacidade da complexidade e do caos, a matéria ganhou habilidades superiores as da humanidade, até mesmo nos dias atuais; expondo a maior obra de design existente no Universo, a vida, como produto de processos estocásticos. Segundo Ellis⁵:
"Uma simples declaração de fato: não há nenhuma teoria física que explique a natureza, ou mesmo a existência, de jogos de futebol, bules de chá, aviões a jato. A mente humana é baseada fisicamente, mas não há esperança alguma de se prever o controle de comportamento a partir das leis físicas subjacentes. Mesmo se tivéssemos uma 'teoria física de tudo' satisfatória, essa situação permaneceria inalterada: a física ainda não seria suficiente para explicar os resultados de propósito humano, e assim iria fornecer uma descrição incompleta do mundo real em torno de nós."
Em nossa mente existem miríades de pensamentos, coisas que não existem na natureza, que não encontram padrão correspondente na natureza. Quando instanciamos nossas concepções, instanciamos coisas que não se formam na natureza. Então, instanciamos os padrões independentes(arbitrários), e eles se configuram estranhos a natureza demonstrando a realidade da agência.
Desfecho
Toda e qualquer objeção ao Design não seria um caso particular da TDI mas, como todos os outros problemas, compartilhado com outros campos e teorias. Um exemplo, a natureza da intencionalidade, ela se equipara a um efeito sem causa e a interrupção de uma cadeia causal, uma liberdade da cadeia determinista, uma autodeterminação.
Esta questão aparece em Metafísica, onde Aristóteles aborda o intelecto e transparece que suas propriedades são semelhantes as do motor imóvel e de Deus⁶. Essas noções implicam em nossa presunção de deveres, direitos, culpabilidade e responsabilidade no indivíduo visto que: se ele é apenas uma bola na sinuca causal, então, ele apresenta a mesma inculpabilidade do projétil de uma arma ou da lâmina de uma faca no caso de um crime. Porque eles apenas participam da cadeia causal. E considerar isto está fora de cogitação, assumimos que de fato há culpabilidade na inteligência.
De fato, a Teoria do Design Inteligente tem conclusões que conduzem a fortes implicações, mas isso não é motivo para rejeição.
Recomendação: documentário de Meyer & Axe, O Enigma da Informação.
Referências
1) REALE, Giovanni. Metafísica de Aristóteles III.
[1075 a 5-10] O objeto da Inteligência é simples e não composto, …
2) Eskelsen. Derrubando o Naturalismo Metodológico.
https://tdibrasil.org/index.php/2015/12/28/derrubando-o-naturalismo-metodologico/
3) Metafísica de Aristóteles – Livro XII.
[1069b 26] A Inteligência é uma só, de modo que, se também a matéria fosse uma só, surgiria efetivamente tal e tal coisa, que a matéria era em potência.
4) Stephen Meyer. Darwin’s Doubt, Cap. 1
5) Ellis, George FR. “Physics, complexity and causality.” Nature 435.7043 (2005): 743-743.
6) Aristóteles. Livro XII, ch.7-10
http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0052%3Abook%3D12%3Asection%3D1072b
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