Diariamente “refutações” ao Design Inteligente são publicadas em blogs, vídeos e redes sociais. Apesar de serem irrelevantes na maioria dos casos, elas sempre associam o Design Inteligente ao Criacionismo, mas, tirando a dependência bíblica, qual seria a principal assertiva criacionista e como ela foi refutada?
O cerne do Criacionismo sempre foi uma descontinuidade no registro fóssil, o que atualmente eles chamam de Descontinuidade Sistemática, um requisito fundamental para a alegação de criação, isso é, o aparecimento abrupto. Antagonicamente, com hegemonia na comunidade científica, está a proposta darwinista que tem como cerne a alegação contrária: a continuidade. Atualmente alguns sustentam até a ancestralidade universal comum como fato.
A descontinuidade seria marcada pelo aparecimento do que os criacionistas chamam de tipos básicos ao longo do tempo ou um único evento, após 1941 também chamados de baramins. Em Origem das Espécies há várias referências#, a começar por Geoffrey:
Geoffroy Saint-Hilaire, como pode ver-se na sua biografia, escrita por seu filho, já em 1795, tinha suposto que o que chamamos espécies não são mais que desvios variados do mesmo tipo.
Esses tipos básicos são descritos por criacionistas como altamente plásticos, como podemos ver num excerto sobre W. Herbert1:
O venerável e reverendo W. Herbert, mais tarde deão de Manchester, escrevia em 1822, no 4., volume das Horticultural Transactions, e na sua obra as Amaryllidacées (1837, p. 19, 339), que «as experiências de horticultura têm estabelecido, sem refutação possível, que as espécies botânicas não são mais que uma classe superior de variedades mais permanentes». Aplica a mesma opinião aos animais e vê que as espécies únicas de cada género foram criadas num estado primitivo muito plástico, e que estes tipos produziram ulteriormente, principalmente pelo cruzamento e também por variação, todas as nossas espécies existentes.
Essas concepções de tipos básicos foram usados por Darwin para extrapolar indefinidamente o processo de variação. Atualmente, a abordagem e análise da crítica a “baraminologia” se sustenta sempre por tendenciosidade e falácia genética no tocante a origem da perspectiva ser bíblica2. Também são utilizadas estratégias com conceitos, fragilização da posição criacionista com o uso do termo fixista4 e uma ideia arbitrária e “conveniente” do termo espécie ou tipo usado no passado. Na outra mão, a flexibilização do conceito de evolução segue uma estratégia invasiva, por exemplo, usando conceitos mais fracos como “mudança através do tempo” para validação de conceitos mais fortes como “ancestralidade universal comum”5.
Um dos descobridores do mecanismo de seleção natural, Patrick Matthew (1831)Nota, em seus escritos sustenta “… que o mundo foi quase despovoado em períodos sucessivos e povoado de novo em seguida;…”6, o que em certos aspectos realmente tem suporte em extinções em massa. Já outros naturalistas continuavam sustentando os tipos básicos. Aqui, Rafinesque7:
Na Nouvelle Flore de l’Amérique du Nord (1836, p. 6), Rafinesque exprimia-se assim: «Todas as espécies podiam ser outrora variedades, e muitas variedades tornaram-se gradualmente espécies, adquirindo caracteres permanentes e particulares»; e um pouco mais adiante (pág. 18) acrescenta: «exceptuando os tipos primitivos ou ancestrais do género».
Esses autores são claramente criacionistas e seus sistemas serão o núcleo em qual a teoria evolutiva será expandida indefinidamente por Darwin. Em sua publicação Darwin expõe uma lista de “dissidentes” da criação que dariam suporte a sua perspectiva “expandida”8:
Devo juntar que em 34 autores citados nesta notícia histórica, que admitem a modificação das espécies, e rejeitam os actos da criação isolados, há 27 que escreveram sobre ramos especiais de história natural e geologia persistem há muito tempo, sendo modificadas algumas somente, e explica as diferenças actuais pela destruição das formas intermédias.
Normalmente uma evidência é suficiente para mudar ou pelo menos suspender os juízos sobre determinadas hipóteses, menos no caso da ancestralidade comum. Um problema grave para a continuidade, especialmente para a ancestralidade universal comum, é encontrado principalmente no evento conhecido como “Explosão Cambriana”. O conceito evolutivo de Darwin é modesto, “descendência com modificação”, mas podemos ver neste problema que sua ideia paira sustentada por crença sobre o vazio da evidência de ausência, que é o abrupto aparecimento de uma fauna inteira9:
Não obstante, a dificuldade de explicar, com boas razões, a ausência de vastos pavimentos de camadas fossilíferas abaixo das formações do sistema cambriano superior fica sempre muito grande.
(…)
O problema fica pois, por enquanto, inexplicado, insolúvel, e pode continuar a servir de sério argumento contra as opiniões emitidas aqui…
Esta tendência não acaba por aí, é uma constante.
Descontinuidades simultâneas
A realidade é que todos os problemas persistem até hoje. A descoberta de registros anteriores ao Cambriano não melhorou a situação, na verdade piorou. Essas faunas aparecem e desparecem simultaneamente e denunciam a descontinuidade pela diferença entre elas. O que deveria apresentar algumas amostras de um imenso gradiente de formas, apresenta rupturas com raras exceções.
Em resumo, na questão de continuidade versus descontinuidade – Criacionismo versus Evolucionismo, o que podemos dizer é que antes de se refutar a TDI deveriam aceitar o fato de que a Descontinuidade Sistemática permanece superior a Ancestralidade Universal Comum.
Nota: Apresentei Pattrick Matthew como o primeiro, mas evidências apontam que William Charles Wells abordou a seleção natural em 1813 e James Hutton, pai da geologia, ainda antes (sem propor variação ilimitada).
Referências
[#] Geoffroy Saint-Hilaire (Póstumo, 1795). p. 5 (Livro)[1] W. Herbert (1837). p. 7 (Livro)
[2] Alan Gishlick. Baraminology. 2006. (Acessar)
[3] Matthew (1831). p. 8 (Livro)
[4] Fixismo? (Acessar)
[5] A Evolução é Hipótese ou um Fato? (Acessar)
[6] Patrick Matthew’s law of natural selection (Acessar)
[7] Rafinesque (1836). 8 (Livro)
[8] Darwin lista dissidentes da criação. p. 12 (Livro)
[9] Darwin sobre a Explosão Cambriana. p. 324 (Livro)
(Livro) Darwin, Charles. A origem das espécies. Lelo & Irmão, 2005.
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