O Paradoxo das Promissórias

As promissórias para o design esperam descartar a artificialidade com o avanço dos próprios artifícios.

A promessa de que em algum lugar no futuro explicações materialistas surgirão foi chamada por Popper de “materialismo promissório”. Essas promessas asseguram um “monopólio”, uma exclusividade injustificável, como nos aspectos daquilo que descrevi como Reserva Teórica. Sabemos que o materialismo não é uma consequência necessária ou lógica da pesquisa científica, nem um requisito[1]. O materialismo promissório é uma estratégia retórica tal como apresentei em um método científico universal.

As Promissórias no Caso do Design: Um Paradoxo

Em todas as promessas de “explicação científica” ouvimos dizer que a inferência ao design é análoga ao apelo a ignorância, que novas tecnologias serão desenvolvidas, novas leis-ainda-não-descobertas revelarão mecanismos até então invisíveis que responderão aos anseios naturalistas, porque “sempre foi isso que aconteceu”, quando na verdade essa perspectiva é ignorante sobre a história real da ciência (1) e a questão de artificialidade é muito peculiar (2).

(1) Um exemplo clássico em debates soa como: “antigamente os raios eram a fúrias do deuses, hoje sabemos que são fenômenos naturais”. É claro que os filósofos e inquiridores da natureza não sustentavam tal narrativa em suas obras, algumas chamadas “Sobre a natureza”, mas a intenção deles é construir uma narrativa que justifique a metafísica materialista, mesmo sendo a partir do povo comum e camponeses. Aristóteles deixou claro, com reverência aos antigos, que só deveria se levar em consideração a opinião dos que se dedicaram a inquirição e reflexão, mas isso não parece interessante aos que desejam criar uma caricatura para fins de favorecimento ideológico.

Ironicamente os mesmos que argumentam nessa linha também costumam citar um princípio metodológico contra a inferência ao design (aplicando errado, pra variar: Criando Falácias com a Navalha de Ockham), que foi enunciado por um frade franciscano medieval. Seguindo a perspectiva deles esse seria um “obscurantista religioso”, mas não era, o que demonstra que o “perigoso mundo de fantasias” jamais existiu entre os inquiridores.

(2) Quanto maiores os esforços para produzir algum padrão, mais explícito o design. Porque a previsão era de algo simples, espontâneo, não muito demorado (segundo as promissórias) e fácil para o nosso intelecto, mas encontramos algo complexo, implausível, que tem se arrastado por décadas e difícil para os melhores pesquisadores do mundo.

A inferência primária da ciência para casos como o das estruturas biológicas é claramente ao design. Vários processos são propostos e testados como alternativa, cada esforço para demonstrar uma alternativa é também uma tentativa de falsear o design, que segue incólume na realidade, mas propagado como algo superado desde o século XIX a partir de promissórias jamais pagas.

Cada ano que se passa em esforços ficam mais explícitas a especificidade e complexidade, complexidade especificada, desde os detalhes mais básicos dos sistemas biológicos. Não há mais para onde correr, se não houvesse tentativa, não saberíamos, mas agora sabemos e em alguns anos completaremos um século dos esforços infrutíferos contra a inferência ao design.

Enfim, o paradoxo é de que quanto maior o esforço para se demonstrar a “espontaneidade” da natureza, mais explícito fica que os processos não são nada espontâneos. Não existe mais saída fácil, plausível e simples para as promessas que a ingenuidade e ignorância nos fizeram suportar.


Referências

[1] Moreira-Almeida, Alexander. “Exploring mind-brain relationship: reflections and guidelines.” Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo) 40.3 (2013): 105-109.


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