O princípio das ciências eram os absolutos, o conhecimento necessário e universal, as constantes, em resumo: os limites da natureza. Toda a regularidade é expressa em formulas pequenas: a ciência é essencialmente a descrição mais econômica da natureza. Acontece que há muito mais coisas na natureza entre os seus limites que conhecemos e além deles. A descrição de padrões e fenômenos que ocorrem, por exemplo, esporadicamente ou raramente ampliaram os horizontes da empresa científica.
É como se você estivesse andando cautelosamente em uma sala escura e colocasse as mãos na parede. A partir daí você consegue se orientar melhor através do ambiente. Enquanto as paredes são os limites, há agora um espaço explorável não tão “fixo”, mas que é tão tangível quanto elas.
A compreensão disto nos leva a orientação às tendências, isso é, a partir dos limites podemos encontrar as tendências naturais.
A distribuição normal, por exemplo, é uma tendência dos fenômenos naturais estocásticos, especialmente ruído, e isso é muito importante para distinguir sinal (design).
As tendências dão os contornos das possibilidades naturais. Podemos descobrir o que é plausível e o que provavelmente não acontece em termos de eventos naturais. Em outros termos: favorecer ou rejeitar hipóteses. Por exemplo, no Tabuleiro de Galton, você dificilmente saberá exatamente quantos “feijões” que caem pelo tabuleiro acabarão em cada compartimento, mas saberá aproximadamente a diferença que haverá entre os compartimentos segundo a distribuição normal.
Um conceito muito interessante para ilustrar a orientação às tendências é a Curva de Laffer (economia). Essa curva em um gráfico é utilizada como noção intuitiva para arrecadação de impostos. A ideia é simples: se o governo não cobrar impostos sobre um produto ou serviço (0%), não terá nenhuma arrecadação. Se o governo cobrar um valor muito alto em impostos, colapsará a atividade tributada e também não terá mais arrecadação nenhuma. Entre os dois extremos existe um ponto ideal para cada produto ou serviço com a melhor arrecadação possível. Muitas vezes os governos aumentam a arrecadação ao diminuir os impostos, porque desembaraçam as atividades econômicas; em outras ocasiões perdem em arrecadação ao aumentar os impostos, pois acabam inibindo as atividades produtivas.
Essas noções intuitivas nascem nas ciências naturais. Galileu não possuía ao seu alcance qualquer objeto continuamente em movimento, mas percebeu que quanto maior o atrito de um objeto em movimento, maior a sua desaceleração. O inverso também: quanto menor o atrito, menor a desaceleração. Logo, se não houver atrito, não haverá desaceleração e o objeto permanecerá em movimento continuamente. Assim era certo concluir que os corpos celestes estavam continuamente em movimento por ausência de atrito e não porque alguma coisa os impulsionava.
A mesma noção está no coração da Segunda Lei da Termodinâmica, onde a entropia total de um sistema isolado tende a aumentar. Um sistema isolado não é de nossa experiência possível, mas baseado nas tendências dos sistemas esse limite absoluto é fixado sem qualquer prejuízo em uma das teorias mais bem estabelecidas na história da ciência.
Sabendo todas essas coisas, sabendo também sobre nossas experiências com padrões naturais, seja na areia de praias, nas irregularidades do chão de terra ou formato de pedras — nos casos de escrita na areia, pegada no solo e artificialidade nas pedras — estamos bem justificados em inferir, através das tendências dos sistemas, com segurança entre padrões naturais e padrões de design.
O que argumentei aqui tem sido o coração das ciências naturais desde o século XIX, uma orientação na inquirição que favorece a inferência a melhor explicação. E podemos considerar essas noções como parte importante do sucesso da Ciência.
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