Volta e meia o tema “evolução” resgata discussões e polêmicas antigas. Uma destas discussões diz respeito a alegação de que o próprio Charles Darwin teria inventado a Teoria do Design Inteligente. Mas isso é verdade? Primeiros devemos encontrar uma definição abrangente do Design Inteligente que não faça injustiça quanto a quem primeiro propôs uma teoria deste tipo. Podemos considerar que “uma teoria do design inteligente é aquela em que o objeto de estudo é efeito de uma causa inteligente”.
Tendo isso em mente, descobrimos o primeiro proponente do Design Inteligente em Anaxágoras (500-428 a.C). Anaxágoras propôs que os elementos são ordenados por uma mente com base em conhecimento. A causa seria intelectual e não material ou acidental. O fato de Anaxágoras ser a principal influência de Sócrates, um dos fundadores da filosofia ocidental, permitiu ao design permear toda a concepção da natureza até meados do Século XIX.
A concepção do Design Inteligente permaneceu na escolástica (Tomismo) e até hoje é suporte para as ciências biológicas desde o Sistema Natural de Carolus Linnaeus (agora creditado a ancestralidade comum). Wallace, que que desenvolveu o conceito de Seleção Natural junto com Darwin, possuía diversas propostas baseadas em Design Inteligente.
Mas então qual é a relação de Darwin com o Design Inteligente?
Darwin desejava suplantar qualquer perspectiva de design na origem das espécies: o processo deveria ser cego e livre de qualquer ação inteligente. O termo criação aparece dezenas de vezes em A Origem das Espécies sempre sob ataque, por exemplo:
Para que haverá, na hipótese das criações, tantas variedades e tão poucas novidades reais?
Mas é verdade que a seleção natural estaria baseada em design? A evolução darwiniana realmente está baseada em formas de vida preexistentes. Uma teoria darwiniana pressupõe sistemas que se reproduzem, o que é uma façanha de engenharia (seja a engenharia que for). Por isso há aquela concessão no final do livro (que atribuem “invenção” do Design Inteligente):
Não há uma verdadeira grandeza nesta forma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora, enquanto que o nosso planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continua a girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, saídas de um começo tão simples, não têm cessado de se desenvolver e desenvolvem-se ainda!
Ele realmente faz uma concessão ao Design Inteligente: “pequeno número de formas” era a concepção dos naturalistas dos tipos básicos, proposta criacionista dominante naquela época. Com “uma só”, ele abre espaço para mais tarde surgirem especulações de formação da vida sem inteligência (que era o desejo implícito dele).
Conclusão
Considerando todos os fatos supracitados, Darwin não foi o “inventor” do Design Inteligente. O livro A Origem das Espécies é inclinado contra a perspectiva de design salvo uma concessão quase simbólica e provisória. Creio que a afirmação de que Darwin inventou o Design Inteligente seja mais uma provocação hiperbólica formidável aos darwinistas que não leram Darwin.
Darwin, Charles. A origem das espécies. Lelo & Irmão, 2005.
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