Desde cedo recebemos do ensino regular a ideia de que os seres vivos são produto acidental da natureza. Esta concepção é reforçada por vários documentários sobre a vida animal tanto quanto permeia notícias e analogias em qualquer assunto. A verdade é que o darwinismo se tornou uma explicação para quase tudo
Eu cresci exatamente com esta concepção: a vida era um acidente que não se equiparava às tecnologias humanas. Dificilmente algo que adotou uma função acidentalmente teria a mesma qualidade estrutural daquelas que foram feitas e aperfeiçoadas especialmente para um fim. Nenhum ajuste evolutivo imediato garantiria um resultado semelhante a engenharia dedicada. Em uma escala de progresso, os seres vivos seriam a parte mais primitiva das formas funcionais e as nossas criações seriam sempre o desfecho.
Agora, se a engenharia biológica fosse comparada a engenharia humana, qual das duas revelaria ter uma causa com maior perícia? Qual processo de formação demonstraria maior artifício? De um lado, um processo cego orientado por contingências e restrições; do outro, a humanidade com gênios de todas as ciências e conhecimento acumulado. Temos bilhões de anos de supostos processos uniformes contra poucos milênios de transformações drásticas e acúmulo de conhecimento exponencial.
Porém, é muito difícil equiparar sistemas tão diferentes, extremamente heterogêneos. Uma comparação entre as engenharias natural e humana certamente seria imprecisa, mas ela poderia indicar alguma coisa? Sim. Ela pode delinear a causa dos sistemas biológicos, nos dar uma ideia da maior força criativa conhecida, aquela que formou todo o sistema natural e o próprio ser humano.
E este contorno foi dado no século 20. As tecnologias humanas avançaram exponencialmente enquanto, simultaneamente, a engenharia biológica era cada vez mais revelada. As descobertas do universo biológico ganhavam analogia com nossas invenções mais recentes. Em meados daquele século, Wiener fundava a Cibernética e deixava claro que não havia distinção entre seres vivos e máquinas num contexto funcional. Os grandes projetos tecnológicos consumiam menos recursos e esforços que os relacionados aos organismos vivos. Em A Supremacia do Design vimos um pouco destas diferenças.
Vimos também em Uma Ode ao Código Genético – Evidências para o ajuste fino na Tabela Padrão de Códons que o código genético antecipa as soluções de engenharia pra imunidade a ruído só desenvolvidas para sistemas de informação. Em O Design Biológico das Proteínas – Engenharia da Exaustão vimos que a busca pelo design de proteínas esgota nossos recursos computacionais. O cenário delineado para todas essas coisas não tem praticamente nada a ver com um cenário acidental.
Pequenas coisas, como o ajuste de luminosidade e foco em nossas câmeras, que exigiram árduo trabalho e conhecimento acumulado, já existiam na natureza em maior qualidade. A questão já não é saber qual design requer maior perícia, mas a diferença de magnitude.
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