Por Michael Egnor
Em 25 de julho de 1968, o beato Papa Paulo VI publicou sua encíclica Humanae Vitae. Foi, e é, o documento católico mais controverso do século passado, e talvez de qualquer século. A encíclica afirmou a proibição da Igreja à contracepção, desafiando a maioria dos membros da comissão do papa formada para estudar a questão, e desafiando o espírito sexual da era moderna. Daí a tempestade de fogo.
Paulo VI compreendeu que a aceitação da contracepção e da ética sexual do mundo moderno seria uma reviravolta radical na compreensão da Igreja sobre os seres humanos e a lei moral. O que quer que se pense sobre contracepção, é inegável que a Humanae Vitae era profética. Paulo VI previu que a modernidade sexual, exemplificada pela contracepção, levaria à infidelidade e ao declínio moral , à perda de respeito pelas mulheres, ao abuso de poder por parte das autoridades públicas e a afirmações destrutivas e radicais de autonomia sobre nossos corpos.
Uma Reflexão Profunda
A Humanae Vitae foi uma profunda reflexão sobre homens e mulheres, sobre a natureza humana e sobre os propósitos inerentes à sexualidade e à procriação. A encíclica é uma afirmação da lei natural – da visão de que existe bem e mal objetivo e que uma compreensão da natureza pode guiar a conduta moral. A encíclica é uma reafirmação enfática de que o “dever” pode ser derivado do “ser”. É uma afirmação de que a natureza tem finalidades e que o homem é moralmente obrigado a cumpri-las.
A Humanae Vitae é uma profunda reflexão moral sobre a lei natural – de propósito – na sexualidade. O mundo natural, do qual fazemos parte, está imbuído de propósito, e esse propósito pode ser inferido a partir de um estudo cuidadoso e objetivo da natureza e do homem. Paulo VI observou que o propósito da sexualidade – o fim último para o qual existe – é a procriação, e fechar o ato sexual à procriação é uma violação da lei natural e, portanto, da lei moral.
Agora existem diferentes perspectivas sobre esta invocação da lei natural, mesmo dentro da Igreja, e há muitos que não aceitam a lei natural como um guia moral genuíno. Mas o ponto de vista do pontífice é baseado no discernimento de propósito na sexualidade, e o discernimento de propósito na natureza é a pedra angular da ética tradicional baseada na lei moral.
Propósito na natureza
O discernimento do propósito na natureza não se limita à lei moral e à sexualidade. A ciência é o estudo do propósito no mundo físico, assim como a ética, apropriadamente entendida de acordo com a lei natural, é o estudo do propósito na esfera moral. O objetivo do ciclo de Krebs é gerar energia; o propósito do coração é bombear sangue; o propósito da relação sexual é procriar. Nenhum conhecimento genuíno – científico ou moral – do mundo natural pode excluir a inferência do propósito¹. Todo ato na criação tem um telos – uma meta pela qual ele age. Nem a ética nem a ciência podem ser feitas apropriadamente sem inferência à teleologia – ao design – na natureza. Assim como a lei natural é uma exploração moral do propósito nos assuntos humanos, o design inteligente é uma exploração científica do propósito – da teleologia – na biologia.
Nota do autor ¹: Não é exclusivamente a teleologia intencional, compreende ainda as tendências dos sistemas para um estado final determinado. Mas na biologia, tal como na engenharia, isso é mais que verdadeiro: Temos que considerar os organismos como alcançando ou falhando em certos objetivos, caso contrário, não podemos compreender o que os organismos estão fazendo a qualquer momento (Gatherer, 2010, citando Polanyi [acessar]).
Neste 50º aniversário da Humanae Vitae, vale a pena refletir sobre a onipresença do propósito no universo. Existe propósito em toda a criação – manifesto nas leis científicas, na cosmologia, na genética e na biologia molecular, na fisiologia e na psicologia, não menos que na lei moral. O mundo está saturado de design, na natureza física, assim como nos assuntos morais. E vale a pena notar que a ciência do design inteligente tem sido confrontada com intransigência e até mesmo com o ódio que não diferente daquele que saudou a Humanae Vitae de Paulo IV cinquenta anos atrás.
Um apelo por dignidade
A negação de propósito na biologia pelos darwinistas é veemente. Talvez haja um objetivo maior nessa negação. A negação de propósito inerente à biologia é entrelaçada com a negação do propósito inerente à moralidade. O reconhecimento do propósito de qualquer tipo inerente à natureza é um repúdio da concepção modernista do homem como o fim de todas as coisas e como o legislador moral final. Tal negação de um propósito superior – de lei moral independente dos desejos do homem – é o fundamento indispensável dos costumes sexuais modernos.
A Humanae Vitae era um apelo para reconhecer que a sexualidade humana tem dignidade que transcende o homem e tem objetivos além dos nossos. A lei moral natural, afirmada de maneira tão eloquente na Humanae Vitae, é uma inferência do design na moralidade que é semelhante à inferência do design na biologia. Mas para ateus e materialistas, não deve haver nenhum desígnio na ciência, porque isso abriria a porta para um “pé Divino”, e assim abriria a porta também para propósito e transcendência na lei moral.
Suspeita-se que é a aversão ao propósito moral, ainda mais do que a aversão ao design biológico, que está na raiz da negação darwinista do design inteligente.
…
Michael Egnor. Humanae Vitae and Intelligent Design. August 6, 2018.
(Acessar)
Faça um comentário