Resposta a Leonardo Brogliato
No dia 17 de fevereiro uma publicação chamada “O design inteligente não é uma teoria científica” foi publicada em um site chamado Ciêncianautas por Leonardo Brogliato. A publicação, como explícito no título, argumenta contra a cientificidade do Design Inteligente.
O texto começa contando a versão tradicional de envenenamento de poço¹:
Observação ¹: é uma estratégia retórica em que se apresenta uma versão de fatos ao público com intuito de desacreditar ou até mesmo ridicularizar uma outra versão dos fatos ainda não apresentada. Essa estratégia gera um cenário muito desfavorável ao outro lado, o qual “quanto mais se explica, mais se complica”.
Foi nos Estados Unidos que surgiu o movimento do design inteligente, uma pseudociência que tinha como objetivo combater o materialismo científico e a Teoria da Evolução usando a estratégia de cunhar um movimento político e social (1) para tentar tirar proveito da primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante liberdade de culto a todos os cidadãos, e ensinar o design inteligente ao lado da Evolução nas escolas públicas (2), mas falharam e foram refutados no tribunal (3) que ficou conhecido como “O Julgamento de Dover”, no qual foi comprovado que o design inteligente era uma forma de criacionismo disfarçado (4). O Michael Behe, o pai do design inteligente, assumiu que não tinha lido grande parte dos artigos publicados sobre a evolução.
(1) O objetivo da Teoria do Design Inteligente é distinguir aspectos que são melhores explicados por causa inteligente, o que chamam artificialidade. Realmente é visível e inegável que Phillip E. Johnson, autor ou influenciador de uma Estratégia da Cunha, age como um ativista. Mas não é nada diferente do que Richard Dawkins, Thomas H Huxley e o próprio Darwin chegaram a fazer, e não é nada que elimine o teor das propostas apresentadas por eles (não estou aplicando o tu quoque, apenas exemplificando a irrelevância).
(2) Não há qualquer programa ou incentivo para ensino de Design Inteligente em escolas seja no Brasil ou EUA.
(3) A Ciência não é um empreendimento para tribunais e, (4) ainda que fosse verdade, no máximo teríamos uma falácia genética [a][b].
O design inteligente não consegue explicar como as espécies surgiram (5). E o próprio Behe não negou a ancestralidade comum (6), já outros defensores do movimento acreditam na Terra jovem (uma ideia que diz que o planeta Terra tem apenas seis mil anos) e no criacionismo bíblico, os quais deixam explícito a ligação com crenças religiosas (7).
(5) O Design Inteligente infere que os padrões encontrados nos sistemas biológicos tem causa inteligente. Realmente não propõe qualquer processo específico para a formação desses sistemas. Se tomarmos algum conceito de espécie, a partir dos sistemas biológicos já existentes, a origem de novas espécies pode se dar por pura variação, enquanto o processo darwiniano pode até restringir a especiação.
(6) Behe, e boa parte dos proponentes estrangeiros do Design Inteligente, tem uma concepção de evolução pelo estruturalismo. O estruturalismo suporta tanto a perspectiva puramente evolutiva quanto a de Design Inteligente e, creio eu, hoje possui maioria na comunidade científica. O domínio do darwinismo deixa explícito um viés ideológico: uma minoria barulhenta pressionando uma maioria silenciosa, ou, nas palavras de Lynn:
“A afirmação darwinista de explicar toda a evolução, é uma meia verdade popular cuja falta de poder explicativo é compensada somente pela ferocidade religiosa de sua retórica." Margulis in Acquiring Genomes: A Theory of the Origins of the Species, p. 29, Basic Books, 2003.
(7) Sim, aqui no Brasil temos muitos criacionistas que adotaram o Design Inteligente, assim como a maioria dos eugenistas adotaram o darwinismo (novamente, não se trata de tu quoque). Eu sinceramente estimo muito os criacionistas pela sinceridade tanto quanto desprezo os ativistas do darwinismo pelas recorrentes falácias. E, por fim, esse “argumento” novamente se enquadra na falácia genética (típico).
Por quê o design inteligente não é uma teoria científica? Não tem como testar a ideia de um adepto do design inteligente (8), isso já mostra que o design inteligente não é uma teoria científica e que não resulta de aplicações do método científico.
(8) Argumentum ad ignorantiam, qualquer teoria que faça inferências sobre padrões ou comportamentos é testável. Segue uma lista de alguns propostas e aspectos testáveis apresentados ao público comum aqui mesmo:
Métodos para o Design – Assinaturas
Métodos para o Design – Sinais do Espaço
Métodos para o Design – Retilinearidade
Um modelo testável para o Design Inteligente
Enfim, ainda há os aspectos como o de análise de frequência e o de análise de composição (esse qual muitos especialistas são da TDI), esse último é um aspecto útil na espectrometria de massas; a qual permite descobrir a origem e os processos sofridos por uma amostra.
O design inteligente afirma que processos naturais são incapazes de explicarem a diversidade biológica (9), mas essa isso não é verdade. A biodiversidade biológica é explicada pela Evolução, e uma forte evidência a favor da Evolução é que existe um padrão de semelhança genética entre todos os seres vivos (10).
(9) Sim, afirmamos.
(10) O padrão de semelhança não diz nada por si mesmo. Temos o mesmo padrão, com qualidade menor, nos projetos humanos [a][b][c][d].
Outro argumento falacioso é a complexidade irredutível (11), mas esse pseudoargumento já foi refutado pelo biólogo Kenneth Miller (12).
(11) Falacioso porquê? Há uma seção aqui chamada Direito de Resposta. Você escreve para office@tdibrasil.org e tem sua crítica ao Design Inteligente publicada neste portal. Mas não espere facilidade na continuação das respostas.
(12) Refutado como, a TDI não era não-falseável? Por acaso foi por coopção? Qual o ponto de falseabilidade da coopção? Sabemos que nem a seleção natural e nem a coopção possuem pontos de falseabilidade², em comparação com a complexidade irredutível³ (extremamente observável em engenharia reversa) nós temos um argumento maios valioso que os dois juntos (explicação) ⁴.
Nota ² ³: Behe responde a Academia Nacional de Ciências (NAS): (ver vídeo) sobre a falseabilidade da Complexidade Irredutível e a dificuldade de fazer o mesmo com as propostas darwinianas e não-darwinianas (coopção).
Nota ⁴: Na explicação Scott A. Minnich argumenta sobre 10 peças possivelmente importadas (coopção de homólogas), mas assegura que, mesmo se todas estivessem disponíveis, ainda seria um problema. Creio que a última publicação com a relação das proteínas não encontrou disponibilidade pra 15 de 38 proteínas (isso supondo que haveria a espontaneidade de automontagem entre essas proteínas homólogas [provavelmente controladas por instrução epigenética que ninguém sequer imagina de onde vem]).
Observação: Behe não se contrapõe à evolução, mas ao darwinismo (ver observação do primeiro aspecto). O argumento pode ser radicalizado contra a evolução, mas Behe acredita que a implausibilidade é compensada por um favorecimento planejado (estruturalismo).
A genética dos organismos vivos não corresponde ao que se esperaria da hipótese do design inteligente (13) que defende a existência de um designer. Os proponentes do design inteligente simplesmente não conseguem explicar como a existência do cromossomo 2 no ser humano, que é resultado da fusão de outros dois cromossomos encontrados nos demais primatas, seria o resultado de um designer inteligente, já que o simples fato de existir em nós um do cromossomo 2 que é resultado da fusão de outros cromossomos existentes nos primatas é uma forte evidência para a evolução (14).
(13) Eis a asserção perfeita. Porque ela gera a pergunta de ouro. A concepção de design foi excluída e é sequer imaginável para as novas gerações, mas ela orientou a filosofia e a ciência por milênios e ainda orienta vários campos de estudo. Eu expliquei isso em outras postagens, mas será muito mais interessante se ele puder responder. Já que ele disse que “não corresponde ao que se esperaria da hipótese do design inteligente”:
O que uma hipótese do Design Inteligente espera, Brogliato? Qual a expectativa dela? Você sabia que isso é ponto de falseabilidade?
(14) Há controvérsias sobre isso e, em todo caso, a ancestralidade comum não elimina o Design Inteligente (Behe, Denton, Berlinski).
Os proponentes do design inteligente nunca publicaram artigos em revistas sérias como Nature ou Science (15), não testam hipóteses e não fazem ciência (16), enquanto os cientistas publicam vários artigos e estudos sobre a evolução (17), naqueles periódicos científicos e em muitos outros revisados pelos pares.
(15) Publicam sim, sua ignorância sobre o assunto não é argumento.
(16) Testam sim e possuem até instituto próprio [a][b].
(17) Até o século XVII faziam muitos experimentos e publicavam constantemente sobre alquimia.
Por esses motivos o design inteligente não pode ser considerado uma teoria científica (18), trata-se de uma pseudociência com influência do fundamentalismo religioso (19).
(18) Bom, não há nada novo e nem nada verdadeiro em todas as considerações.
(19) E você seria livre de influência “fundamentalista”? Ou esse seu apoio as ideologias de esquerda é só impressão minha (agora sim, tu quoque, respondendo falácia com falácia).
Nota final:Quem quiser saber o caráter do método histórico, recomendo a explicação da tese de Meyer em vídeo
e a tradução resumida de um artigo dedicado sobre o assunto (fonte disponível no rodapé).
…
Eh maravilhoso ter uma pessoa inteligente como vc nos ajudando a entender um pouco mais sobre a TDI…não desista!! Gostaria de pedir caso seja possível q vc faça vídeos em linguagem simples e compreensível a pessoas leigas como eu , endossando as suas defesas a TDI.
Obrigada,
Gisele Ladeira , costureira…ansiosa pela verdade posta a mesa.
Agradeço muito as suas palavras, Gisele.