O Prof. Thomas Nagel publicou um ensaio que incentiva se considerar o Design Inteligente como abordagem científica válida para entender o DNA e os sistemas químicos complexos da vida.
Algumas coisas que sempre defendo aqui sobre a existência de métodos e a validade da inferência ao design é pontuado por ele. Como a inferência ao design é válida, ela foi aos poucos substituída por uma possível suficiência das transformações materiais (suficiência essa sempre questionada e muito questionável por sinal).
Nagel deixa claro que a inferência ao design é válida e que o verdadeiro apelo ao desconhecido (possibilidade), que se tornou um vício na Ciência, veio como evidência de ausência de teleologia nos sistemas biológicos:
Desde o início, tem sido comum apresentar a teoria da evolução por mutação aleatória e seleção natural como alternativa ao projeto intencional como uma explicação da organização funcional dos organismos vivos. A evidência da teoria deve ser evidência da ausência de propósito na causa do desenvolvimento de formas de vida neste planeta. Não é apenas a teoria que a vida evoluiu ao longo de bilhões de anos, e que todas as espécies são descendentes de um antepassado comum. Seu elemento definidor é a afirmação de que tudo isso aconteceu como resultado do aparecimento de mutações aleatórias e sem propósito no material genético seguido pela seleção natural devido às variações hereditárias resultantes na capacitação reprodutiva. Desloca design em favor de uma alternativa.
Ninguém sugere que a teoria não é ciência, mesmo que o processo histórico que descreve não possa ser observado diretamente, mas deve ser inferido a partir de dados atualmente disponíveis. Por conseguinte, é intrigante que a negação desse tipo de inferência, ou seja, a afirmação de que a evidência oferecida pela teoria não suporta o tipo de explicação que propõe, e que a alternativa intencional não foi deslocada, mas que deve ser descartada como não ciência.
Provavelmente ele foi persuadido por Stephen Meyer, que diz essa obviedade desde 1990, data de publicação de sua tese de doutorado em Cambridge sobre o raciocínio científico das ciências históricas (ver). O aspecto é tal evidente que é até assustador que estivemos acostumados a fechar os olhos pra isso nesse caso em particular.
Contradições explícitas
Outro aspecto, além da negação da inferência, é a de que a teoria não é falseável. Talvez essa seja a argumentação principal. Mas começaram a publicar artigos contra casos de inferência ao design na biologia, em especial sobre a Complexidade Irredutível. Claramente uma tentativa de falsear a teoria, ou como dizem eles “refutar definitivamente”. Então aparecem com os dois argumentos ao mesmo tempo: que não é falseável e não possui evidência, mas que a evidência foi falseada na sequência. Então Nagel reconhece o óbvio:
A afirmação parece ser que, embora a ciência possa demonstrar a falsidade da hipótese de design, nenhuma evidência contra essa demonstração pode ser considerada como suporte científico para a hipótese. Somente a falsidade, e não a verdade, do Design Inteligente pode contar como uma afirmação científica. (…) O que seria necessário para justificar a afirmação de que existem proposições tais que a descoberta de evidências contra elas pode ser qualificada como ciência, mas a evidência a favor delas não pode?
Fica fácil de perceber que há algo errado e até desonesto. E ele continua derrubando os argumentos mais conhecidos. Na sequência expõe sobre a teoria ser muito “vaga” em relação a causa:
O problema não pode ser apenas que a ideia de um designer é muito vaga e que nada está sendo dito sobre como ele funciona. Quando Darwin propôs a teoria da seleção natural, nem ele nem qualquer outra pessoa tinham ideia de como a hereditariedade funcionava, ou o que poderia causar uma mutação observável no fenótipo e era hereditária. A proposta era simplesmente que algo sem propósito estava acontecendo, que tinha esses efeitos, permitindo que a seleção natural funcionasse. Isso não é menos vago do que a hipótese de que as mutações disponíveis para seleção são influenciadas pelas ações de um designer. Então deve ser o elemento propósito que é o verdadeiro “ofensor”.
A afirmação de que a Teoria do Design Inteligente não é uma teoria científica implica que, mesmo que existam evidências científicas contra a teoria evolutiva, que foi inicialmente introduzida como uma alternativa ao design, isso não constituiria nenhuma evidência científica para o design. Talvez tenhamos que abandonar a teoria evolucionária, mas então seríamos restritos pelos cânones ou pela definição da ciência para buscar uma explicação científica diferente, ou seja, não válida, sobre o desenvolvimento da vida, porque a ciência nos proíbe de considerar a inferência ao design…
Nem a definição de ciência e nem seus cânones proíbem a inferência ao design. É apenas uma restrição nesse caso específico que foi tão repetida e tão imposta, que acreditamos ser verdadeira e inquestionável.
Considerações
Por fim, o Prof. Nagel diz que potencialmente pode ser científico argumentar que os dados do DNA e da vida favorecem a inferência ao design, mesmo que a ciência não possa lhe dizer a identidade da causa ou qual o objetivo específico.
Nagel nos diz que “tem sido muito cético quanto às afirmações da teoria evolucionária tradicional de ser toda a história sobre a história da vida”. Ele informa que é “difícil encontrar na literatura acessível os fundamentos” para essas reivindicações. (E isso é comum entre grandes nomes da filosofia e da ciência). Ainda relata que a “evidência atualmente disponível” não trás “nada próximo” de estabelecer “a suficiência dos mecanismos evolutivos padrões para explicar toda a evolução da vida”.
Quando ele diz “toda a evolução da vida” ele se refere ao que é reivindicado na história da vida terrestre. E Nagel destaca o ponto da possibilidade do design, e é isso que causa a rejeição a priori da inferência. Ela deve ser negada sistematicamente antes que seja considerada, porque seu poder explanatório é superior:
Nagel conclui que a defesa exige apenas que o design seja admitido como uma possibilidade, não que seja considerado empiricamente inatacável. Seria difícil argumentar que a admissão dessa possibilidade é incompatível com os padrões de racionalidade científica.
Observação:Nagel raciocina o tempo todo teologicamente, como se estivesse considerando o sobrenatural. Realmente, como eu disse em Por que e a Quem o Sobrenatural Interessa?, os efeitos de uma causa sobrenatural, estando no mundo, são passíveis de investigação científica com argumentos pró e contra. Mas não é esse o ponto da Teoria do Design Inteligente – ela é uma teoria sobre padrões de design (que chamam artificialidade), e isso independente da identidade da causa. Talvez por isso ele considere científica mas sem possibilidade de caso positivo (como a maioria dos simpatizantes da TDI).
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Referências
NAGEL, Thomas. Public education and intelligent design. Philosophy & Public Affairs, v. 36, n. 2, p. 187-205, 2008.
Parabéns, Eskelsen! Um dos melhores textos de divulgação do DI em português até hoje!