Quando me deparei com os problemas de teorias evolutivas e de emergência com a matemática, e em parte com a lógica, recebi como respostas “matemática não é ciência”, “lógica é tautológica”, “é possível fazer qualquer coisa com números”. Estariam os matemáticos coagidos a abrir mão de sua paixão e poder intelectual por essas sugestões?
É normal ver ativistas tentando reduzir ou até ridicularizar o que se faz com matemática, isso mesmo quando se trata de aspectos empíricos. É óbvio que eles não sucumbiriam a tal provocação ou a tradicional pressão pura; os matemáticos demonstraram em Wistar o porque a matemática é declarada a Linguagem Universal da Ciência.
A matemática é uma área da academia em que o ceticismo científico do neodarwinismo pode sobreviver ao atual clima político! O Discovery Institute recebeu um e-mail de alguém comentando a lista dos dissidentes de Darwin (Scientific Dissent from Darwin List), na qual mais de 600 cientistas PhD de várias áreas concordam que são “céticos quanto à afirmação de que mudanças aleatórias e a seleção natural poderiam explicar a complexidade da vida”. O autor do e-mail, cético do ceticismo-evolucionista, escreve: “Eu sou um matemático e certamente NÃO estou qualificado para assinar tal lista. Apenas biólogos evolucionistas estão qualificados para dar respostas.” Uma vez que a lista dos dissidentes de Darwin contém indivíduos formados em biologia evolucionária, a questão é: “A objeção do autor do e-mail é válida?”
A verdade é que a matemática tem uma forte tradição em fazer críticas convincentes da biologia evolucionária. Afinal de contas, a teoria de Darwin da evolução através da seleção natural é fundamentalmente baseada em um algoritmo que usa um processo matemático de tentativa e erro para tentar produzir complexidade. A genética de populações é repleta de matemática. De fato, uma das críticas sobre os alegados fósseis transicionais de baleias é que eles representariam mudanças evolutivas em uma escala de tempo muito rápida para ser matematicamente factível. Ao que parece, não há boas razões para que formados em matemática não possam comentar sobre a habilidade do processo de seleção-mutação neodarwiniano em gerar a complexidade da vida.
Os registros daquela conferência, Mathematical Challenges to the Neo-Darwinian Interpretation of Evolution (“Desafios Matemáticos à Interpretação Neo-darwiniana da Evolução”, Wistar Institute Press, 1966, No. 5), reportam vários desafios à evolução, apresentados por respeitados matemáticos e outros acadêmicos da conferência. Por exemplo, o presidente da conferência Sir Peter Medawar afirma logo no início:
“A causa imediata para esta conferência é o senso difundido de insatisfação com relação ao que tem sido aceito como teoria evolucionária no mundo de língua-inglesa, a chamada Teoria Neodarwiniana… Há objeções feitas por colegas cientistas que sentem que, na teoria atual, algo está faltando… Estas objeções à teoria neodarwiniana atual são muito amplamente difundidas entre os biólogos em geral; e não devemos, penso eu, solucioná-las. O simples fato de realizarmos esta conferência é evidência de que não iremos solucioná-las.” (Sir Peter Medawar, “Remarks by the Chairman”, in Mathematical Challenges to the Neo-Darwinian Interpretation of Evolution, Wistar Institute Press, 1966, No. 5, pg. xi, emphasis in original)".
Vários cientistas, dentre eles alguns matemáticos, comentaram sobre alguns problemas com o neodarwinismo:
“Uma maneira alternativa de olhar para o genótipo é como um algoritmo gerador, ao invés de um diagrama; uma receita para produzir um organismo vivo do tipo certo no ambiente adequado para seu desenvolvimento é um exemplo. Assumindo esta hipótese, o algoritmo deve ser escrito em alguma linguagem abstrata. A biologia molecular pode nos ter fornecido o alfabeto desta linguagem, mas é um longo trajeto do alfabeto até à compreensão do idioma. Não obstante, uma linguagem tem regras, e estas são as maiores restrições num conjunto de mensagens possíveis. Nenhuma linguagem formal existente pode tolerar mudanças aleatórias nas sequências de símbolos que expressam as sentenças. Seu significado é quase que invariavelmente destruído. Quaisquer mudanças devem seguir leis sintáticas. Eu poderia conjecturar que o que alguém pode chamar de “gramática genética” tem uma explicação determinística e não deve sua estabilidade à pressão da seleção atuando em variações aleatórias”. (Murray Eden, “Inadequacies as a Scientific Theory”, in Mathematical Challenges to the Neo-Darwinian Interpretation of Evolution, Wistar Institute Press, 1966, No. 5, pg. 11)
“Requerer-se-iam milhares, talvez milhões, de mutações sucessivas para produzir até mesmo a mais simples complexidade que observamos na vida hoje. Parece que, ingenuamente, não importa o quão grande seja a probabilidade de uma única mutação, ainda que fosse tão grande quanto à metade, ter-se-ia esta probabilidade elevada à milionésima potência, o que é tão próximo a zero que as chances do processo ocorrer parecem ser inexistentes.” (Stanislaw M. Ulam, “How to Formulate Mathematically Problems of Rate of Evolution”, in Mathematical Challenges to the Neo-Darwinian Interpretation of Evolution, Wistar Institute Press, 1966, No. 5, pg. 21)
“Não conhecemos qualquer princípio geral que explique como unir o diagrama visto por objetos tipográficos e as coisas que eles supostamente controlam. O único exemplo que temos para uma situação similar (fora da evolução da vida) é a tarefa de profissionais de inteligência artificial em criar sistemas adaptáveis. Sua experiência converge com a maioria dos observadores: sem uma programação prévia, nada de interessante pode ocorrer. Assim, para concluir, acreditamos que há uma falha (gap) considerável na teoria neodarwiniana da evolução, e que este gap não pode ser solucionado com a atual concepção de biologia.” (Marcel Schutzenberger, “Algorithms and Neo-Darwinian Theory”, in Mathematical Challenges to the Neo-Darwinian Interpretation of Evolution, Wistar Institute Press, 1966, No. 5, pg. 75)
Estes são fortes argumentos de acadêmicos qualificados para avaliar a habilidade matemática de processos aleatórios/seletivos para produzir complexidade. Enquanto biólogos evolucionistas e outros tipos de biólogos podem produzir vários insights em biologia evolucionária, cientistas de outras áreas, não biólogos, bem como matemáticos, estão certamente qualificados para comentar sobre a falseabilidade da evolução neodarwiniana.
(Traduzido na íntegra por Jônatas Duarte Lima, escrito por Casey Luskin, Evolution News & Views)
Nota do EF: O matemático Granville Sewell, da Universidade do Texas, El Paso, aponta em um de seus artigos: “Conheço muitos matemáticos, físicos e cientistas da computação que, como eu, estão atônitos por a explanação de Darwin para o desenvolvimento da vida ser tão aceita nas ciências biológicas” (“A Mathematician’s View of Evolution”, The Mathematical Intelligencer, Vol 22 (4) (2000)). O motivo para a “cegueira” dos biólogos evolucionistas, apesar das evidências de outros campos da ciência, foi muito bem resumida pelo jornalista Michelson Borges, ao comentar sobre o Simpósio Wistar, de 1966, no debate entre matemáticos e darwinistas sobre a probabilidade do olho ter evoluído por meio da acumulação de pequenas mutações: “Ou seja: a evolução é um fato; o olho está aqui; então, independentemente do que digam os matemáticos, o olho evoluiu. Ponto final” (A História da Vida, p. 46).
Faça um comentário