O Valor das Lacunas – Reserva Teórica

Se há lacuna, algo está faltando.

Um agradecimento aos ativistas da causa, que em debates apresentam as lacunas de uma forma tão “autossuficiente” que propiciou mais um insight de minhas buscas por estratégias de linguagem. Nesse caso transformam as lacunas em argumento positivo.


Não era a primeira vez que via as lacunas sendo apresentadas como garantia, e eu passei a chamar isso de “reserva teórica” (só a teoria X pode responder isso). Isso me fez perceber que as assumir é assumir continuidade onde, muitas vezes, não há. Só há lacunas onde há continuidade.

Nas lacunas presumidas ninguém se importa em sustentá-las com o “acaso nas lacunas”. Aparentemente argumentar com ignorância nunca foi o problema. Lacunas, realmente, só podem ser preenchidas com continuidade. Sustentar lacunas é interessante para uma cosmovisão específica, não para a ciência. Não existe nada mais valioso na defesa de uma cosmovisão do que conceitos que comprometem a abordagem.

“Os seguidores da Escola de Frankfurt centram seus esforços especificamente na cultura. É a cultura o que forma os fundamentos que modelam a mentalidade e a visão política das pessoas. Alterando-se a cultura, altera-se a mentalidade e a visão política das pessoas. Para alterar a cultura, é imprescindível controlar a linguagem e as idéias. E, para se fazer essa revolução cultural, é imprescindível se infiltrar nos canais institucionais, particularmente na educação.” — Claudio Grass

Entendeu porque as lacunas aparecem sempre como argumento pró-evolução? Como elas surgem no debate? Alguém reparou? A descontinuidade é apontada e são cobrados exemplares transicionais (do compromisso lento e gradual darwinista), então, aparece a esquiva: “estão tentando por Deus nas lacunas!”. A princípio era apenas a exposição de anomalia grave na teoria, mas em poucas palavras o cenário se inverte. Sorrateiramente está implantada a lacuna onde visivelmente não há, e assim está consolidado o domínio e reserva teórica.

Assim, o conceito de lacunas foi uma artimanha linguística na reclamação de descontinuidade no registro fóssil dos críticos da evolução biológica. Ao chamar a falta de continuidade de lacunas se estabelece que algo existe e está faltando, o que é diferente da descontinuidade apresentada inicialmente. Mas é algo sutil o suficiente para não ser percebido pelos próprios envolvidos. Isso não desconfigura a falácia.

O controle da linguagem permite a imposição de teorias e ideias, é uma das ferramentas básicas das ideologias nocivas que assolaram o mundo no século XIX e XX. Porque, nesse caso, lacunas comprometem o discurso com algo que falta, que ainda está para ser encontrado. Esse discurso inclusive torna a pesquisa científica semelhante a um dos conceitos de fé: “esperança de algo futuro”. Assim sendo, conceder ao vazio o status de “lacuna”, com o peso do conceito acima exposto, é conceder ao desejo de que o mundo natural seja diferente do que ele é. E é por isso que a teoria é tranquilamente sustentada por lacunas.

Não que isso tenha algo científico, respeite as regras de inferência ou seja ético, muito pelo contrário…


Claudio Grass. Sobre a Escola de Frankfurt.


7 Comentários

  1. Alguma chance de, em nome da honestidade intelectual, você postar o link da discussão supracitada?
    As lacunas evolutivas no caso, você pretende preencher com deus, afirmar que a “ausência de evidência é evidência de ausência” e concluir que NUNCA serão preenchidas sem a invocação do sobrenatural.
    Falando em dois pesos e duas medidas… Smoke and mirrors. Assim caminha a religião do design iiiiiiiiiiiiih…. nteligente.

    • Falácia do espantalho! Ele nunca disse isso! O ônus da prova recai sobre você. A questão sobre as lacunas é que CERTAS características da natureza são melhores explicadas por um Designer do que por processos naturais aleatórios. O que está em jogo aqui é a questão da INFERÊNCIA, não provar algo que se acredita existir.

      Eu sou mestre em detectar falácias do espantalho, principalmente quando elas são oriundas de neo ateus militantes como o Sr.

      Sobre o fato do Design Inteligente ser uma “religião”, eu derrubo o seu argumento com uma fala do filósofo ateu evolucionista Michael Ruse: “A evolução é mais do que ciência. É uma religião secular, uma espécie de dogma”.

      • Pode caracterizar como falácia do espantalho caso queira, Marco. Não vejo problema em você defender sua religião tentando me acusar daquilo que vocês fazem. Não foge do comportamento defensivo humano…

        Projeção (consulte o artigo de psicologia sobre este termo).

        Mas dispenso o ad hominem e a carga pejorativa implícita no seu uso do adjetivo neo-ateu, embora a imagem do personagem Neo interpretado por Keanu Reeves na antológica cena do segundo filme da trilogia quando ele para todas as balas com apenas um gesto de mão seja emblemática, simbolizando toda penca de argumentos pró-teísmo sendo encerrados com uma única resposta…

        PROVE.

        Retornando da digressão e da referência à cultura pop, vejamos… você tem certeza e pode, conforme eu disse, provar que o tal de(u)signer é a melhor explicação? Postular mágica é algo que nossos antepassados mais primitivos já faziam.

        Afinal de contas a lacuna existente séculos atrás que atribuía os raios e trovões numa tempestade a um “eletrocutor inteligente” foi suficientemente respondida sem a necessidade de se apelar para um ente sobrenatural com intenções e vontades.

        Não mudou nada de lá pra cá. Apenas as lacunas que se tornaram mais estreitas e os “magos” citados tem nomes diferentes… o mago defendido pelo De(u)sign inteligente poderia muito bem ser Voldemort, pela relutância que vocês tem em mencionar o nome representado pelo tetragrama.

        Sim, estou ciente que o verniz que mascara o conteudo verdadeiro do Design Iiiiihn… teligente é apenas “INFERIR DESIGN” a certas características (a que está em voga atualmente é a informação, antes era complexidade irredutível) e nunca se referir ao designer.

        Bem, Tyler Durden curtiu isto.

        E a lacuna deveria ser mantida uma lacuna até o final do filme, até vocês terem evidências e meios objetivos de demonstrar o tal de(u)signer, mas vocês inventam um personagem fictício – SPOILER ALERT!!!! – igual Jack (Edward Norton) e o idolatram.

        Só acho curioso você meu colega Marco Tulio, expert em detectar espantalhos, ter falhado ao identificar o usado por Michael Ruse. #sad

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