Apelo às Possibilidades, ao Tempo e ao Acaso

"A probabilidade quando estendida a milhões e até bilhões de anos torna tudo possível."

Há um forte apelo à “possibilidade” no discurso naturalista. Este pequeno texto expõe a realidade dos fatos e a fragilidade do apelo.

Diferente do lançamento de dados, na natureza existem desde tendências dominantes (mais frequentes) até as mais raras e coisas que simplesmente não ocorrem.


É muito fácil e até intuitivo perceber que existem problemas nas teorias relacionadas a formação de padrões de design na natureza, seja na origem ou evolução de sistemas biológicos. Apelos são feitos ao tempo, a chance e ao desconhecido, a metáfora com o teorema do macaco infinito – de que macacos digitando aleatoriamente, sem limite de tempo, podem compor qualquer obra – é clássica.

Mas o que a natureza nos apresenta? Qual seu comportamento? Ela realmente produz qualquer coisa bastando tempo?

Bom, podemos começar com um exemplo simples, trivial: uma palavra escrita na areia da praia.

Padrão não trivial na areia. Segundo a crença corrente padrões como este ocorrem pelo Universo bastando tempo.

Bom, sabemos intuitivamente que nem tudo se forma. Mas, será que pelo menos uma letrinha se formaria? Não faria parte da universo de possibilidades de efeitos das ondas do mar, do vento, das causas agora em operação formar um padrão desse tipo? Bom… não. A não ser que uma causa particular (e bem peculiar) seja considerada, que é o design inteligente.

O curso da evolução biológica (vídeo), tema que motivou esta postagem, nos números do Dr. Axe são simplistas, mas absolutos. Não existe e nem tem como existir busca exaustiva em uma evolução biológica:

  • Porque de início se assume uma população de organismos.
  • Essa população apresenta tendências e restrições que já não configuram busca exaustiva em todo o Universo de possibilidades.

Estou salvando a ideia evolutiva? De modo algum. O trabalho de Axe apresenta um cenário assustador, porque temos uma estimativa de tempo e organismos em toda a cadeia de eventos terrestre, e ele expressa da seguinte forma:

"Assim, para a vida, essas oportunidades assumem a forma de organismos vivos individuais. .... Não importa o quão raro seja, se você obtiver número suficiente de oportunidades, elas podem se tornar prováveis." Douglas Axe

Nós estimamos um número de 10⁴⁰ organismos na história terrestre, no trabalho de Axe temos uma pequena proteína funcional (150 aminoácidos) em cada 10⁷⁷. Isso configura 10³⁷ possibilidades por organismo.

A favor da possibilidade eu tenho em mente o que citei antes: não é uma busca exaustiva para todas as possibilidades, existem restrições, tendências e uma configuração inicial específica. Isso aumenta muito a chance de sucesso, mas lembrando sempre: a ideia de Axe é de se alcançar uma proteína, a dívida teórica é com quantidades notáveis de novidade surgindo na biosfera abruptamente.

Contra, porém, nós temos que uma simples proteína normalmente tem mais de 200 aminoácidos (10²⁶⁰ possibilidades), o que é um universo muito maior.  Isso implica em um cenário semelhante, mesmo em meio às restrições e tendências, porque o número de possibilidades passa a ser muito mais alto (muito mesmo).  As permutações em proteínas de eucariontes, com média de 350 aminoácidos, são maiores que 10³⁹⁰.

Uma situação mais clara ocorre para os nossos amigos astrobiólogos, que investigam a “origem, evolução, distribuição e o futuro da vida no Universo”. O maior peptídeo já encontrado por eles é formado por apenas dois aminoácidos. Dipeptídeos glicina-glicina (glicina é o aminoácido de maior ocorrência) nos  meteoritos Yamato-791198 e no famoso Murchison. Por mais que as quantidades de aminoácidos sejam pequenas, por vezes mensuradas em partes por bilhão nas amostras, se fosse tendência encontraríamos alguns polipeptídeos. Isso indica claramente que não existem tendências de formação de macromoléculas que configuram o design biológico. Se alguém rejeita isso tem que reconhecer pelo menos que não existe tendência de formação de um cenário para isso ocorrer.

O atual pensamento corrente nos leva a crer em uma natureza quase mágica, sem limites, que produz qualquer coisa, que “desenvolve” qualquer padrão.

Certas coisas simplesmente não ocorrem, e é difícil admitir isso quando você depende de algumas coisas que podem se enquadrar nisso. Essa é a realidade.


Referências

[1] How big is the average protein?
(acessar)

[2] Shimoyama, Akira, and Ryo Ogasawara. “Dipeptides and diketopiperazines in the Yamato-791198 and Murchison carbonaceous chondrites.” Origins of Life and Evolution of the Biosphere 32.2 (2002): 165-179.


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