Quem é Francis Collins diante do Design?

Francis Collins e a “força” de seu contra-argumento.

Francis Collins expõe seu pensamento tímido e conformista quanto a imposição ideológica de um compromisso metafísico para evitar a inferência ao design. Isso tudo não ocorre por design implicar em sobrenaturalidade (porque não existe qualquer implicação necessária), mas por razões obscuras a simples possibilidade deve ser rejeitada a priori. Eis a sua exposição:

"A evidência de um planejamento na natureza tem sido atraente para a humanidade durante boa parte de sua existência. Mesmo Darwin, antes de sua viagem a bordo do HMS Beagle, era admirador dos trabalhos de Paley e declarava estar convencido desse ponto de vista. Contudo, mesmo de uma maneira simples como um problema de lógica, existe uma falha no argumento de Paley. Sua tese pode ser resumida como se segue:

1. Um relógio de pulso é complexo.
2. Um relógio de pulso teve um planejador inteligente.
3. A vida é complexa.
4. Portanto, a vida também teve um planejador inteligente.

No entanto, o fato de dois objetos partilharem uma característica (complexidade) não significa que compartilhem todas. Considere, por exemplo, o argumento paralelo a seguir:

1. A corrente elétrica na minha casa é formada por um fluxo de elétrons.
2. A corrente elétrica vem da empresa de energia elétrica.
3. Relâmpagos são formados por um fluxo de elétrons.
4. Portanto, os relâmpagos vêm da empresa de energia elétrica.

Embora pareça interessante, o argumento de Paley não pode ser considerado como a história completa."

Mas, é esse mesmo o pensamento, a ideia de Paley? O que temos no coração do argumento:

"Todos os indícios de um artifício, todas as manifestações de um design que existem no relógio existem também nas obras da natureza, com a diferença de que, na natureza, são maiores ou mais numerosos, e isso num grau que excede todo o cálculo." — William Paley

Vemos que não é uma característica em comum, são várias. Paley não consegue expressar especificamente, mas deixa claro que são todos os indícios e manifestações, sem exceção. São aspectos do mundo natural, padrões de design. A diferença apontada está em dimensão, número e grau, onde as obras humanas são inferiores. Isso porque Paley desconhecia a sofisticação que existe no interior da célula. Por ninguém saber expressar isso de forma adequada a ideia ficou em suspenso até a década de 1970, quando voltou a ser explorada.

Francis Collins é bem conhecido por tentar conciliar religião e ciência. Posso afirmar com plena certeza que alguém que tem como prioridade conciliar as coisas, necessariamente corre de atritos. Isso é algo totalmente diferente de alguém que busca conhecer a verdade sobre algo, seja na ciência ou em qualquer outra coisa. Daí desencadeamos o interesse e necessidade que ele tem de “ser aceito”. Bom, isso faz parte da natureza humana. Discordar de um paradigma deixa o indivíduo suscetível a todo tipo de rejeição e até mesmo ataques dos “defensores da verdade” mais ardentemente apaixonados. Experimente defender a TDI por um dia. Entretanto, para nós, nada disso importa. Por maior que sejam os ataques à reputação e a tentativa de desmoralização, permanecemos descrevendo a natureza sem restrições.

Quem é Francis Collins diante do Design? Somente alguém sem muita coragem tentando sustentar suas crenças.


Francis Collins. A Linguagem de Deus. 2006.


6 Comentários

  1. So quero responder isso: “Daí desencadeamos o interesse e necessidade que ele tem de ‘ser aceito’.”
    Michelson Borges também afirmou isso(em outras palavras ) em seu site(Criacionismo), que o evolucionismo teísta é um meio de fuga para o debate. Mas vocês não levam em consideração que, além de evo-teistas argumentarem contra idéias materialistas-ateístas por exemplo as de Dawkins, também argumentam contra os ideais criacionistas(terra jovem) e design inteligente. Se for para fugir do debate, ou mesmo para “ser aceito”, essa posição não é das mais adequadas!

  2. A imposiçao ideológica de um compromisso metafísico para a inferência do Design ou Designers pode seguramente se transformar em “algo” mais próximo do materialismo científico.

    Imagino que a troca de informações entre os microtúbulos neurais (Stuart Hameroff e Roger Penrose) possuam um padrão reconhecível e assim podem ser lidos.

    Imagino também que a linguagem contínua entre os microtúbulos e o Cosmos contenha informações biológicas que interagem contínuamente com o (s) Designer (ers) e podem ser decifrados.

    “A imaginação é mais importante que o conhecimento” Albert Einstein (1879-1955)

    Cito Einstein embora pense que a imaginação é mais eficiente na busca da verdade quando aliada ao conhecimento.
    Quanto mais eclético e profundo o conhecimento mais eficiente e direcionada é a imaginação.

  3. “Vemos que não é uma característica em comum, são várias. Paley não consegue expressar especificamente, mas deixa claro que são todos os indícios e manifestações, sem exceção.”

    Só esse trecho do texto já quebra toda a argumentação contra as críticas feitas ao DI por Collins. Paley nem sabe quais são as caracteristicas em comum, mas deixa claro que são todas. Como assim? Como ele sabe que são todas se ele nem sabe quais são todas? Tá difícil, viu Junior.

    • Caro Vinicius,

      Essa observação sobre Paley é minha, originalmente apresentada em “7.2 O que Paley não soube expressar”. Não saber expressar está bem distante de não saber, é nesse ponto que normalmente são cunhados novos termos, que carregam novos conceitos.

      Aproveito a ocasião para citar o Desfecho do mesmo livro:

      “Por muito tempo tentamos expressar o que percebíamos com palavras inadequadas como “ordem”. Intuitivamente a distinção era clara, como expressar não. Como a comunidade se dedicou a descrever processos hipotéticos que supostamente ocorreriam em cenários baseados em um paradigma que foi uma verdadeira aposta, coube a nós descrever aspectos da realidade dos sistemas que escapam a abordagem comum.

      Na dificuldade encontrada em expressar a diferença entre auto-organização e o simples sistema de água e óleo, ou em expressar a distinção entre controles e restrições (que encontrei posteriormente em Abel), ou ainda no caso do Reconhecimento de Padrões, estávamos debaixo do mesmo peso que Paley e muitos outros, antes dele e após. Não porque o conhecimento mais difícil de se expressar seja o mais nobre, mas porque existe uma nobreza ímpar em expressar tão sutil, preciosa e fundamental realidade, tão elevada que é a qual permite a ciência e a instanciação das coisas do intelecto.

      É certo que estamos distantes da crítica de um modo incompreensível para eles. Porque o debate não passa das coisas simples, dos menores conceitos, das mais claras ideias, e não há quem se proponha a entender e sequer tentar descrever melhor independentemente a paralaxe preestabelecida pela cosmovisão.”

      12. Desfecho
      https://tdibrasil.org/office/tcd/index.php/2016/07/04/desfecho/

  4. Olá.
    Gostaria de fazer três observações:

    1) O autor ao invés de contra-argumentar o pensamento EvoTeísta de Collins, ele faz um ataque pessoal. Ou seja, Ad hominem.

    2) A TDI possui três falhas básicas:
    A) Cai no Deísmo;
    B) É mais uma inferência teológica-filosófica do que ciência (observacional-experiencial) propiamente dita.
    C) Corre o risco de cair no “deus das lacunas”.

    3) O conflito entre TDI e TE é um erro de categoria. A TDI se preocupa mais como as causas últimas da vida e universo (apesar das críticas ao mecanismo da Seleção Natural). A TE se preocupe com a origem das espécies e seu desenvolvimento. Darwin não falou sobre origem da vida. A TDI e TE não são mutuamente excludentes.

    Acredito em Deus, sou cristão. Mas não sou adepto do Criacionismo da Terra Jovem e Teoria do Design Inteligente. Prefiro Alister McGrath e Francis Collins do que Adauto Lourenço e Marcos Eberlin.

    • Olá,

      1) O texto é sobre a fragilidade da crítica ao DI.

      2)
      (a) Não é implicação necessária e é irrelevante para a empresa científica.
      (b) É uma inferência clássica da ciência e está presente em vários campos científicos.
      (c) Esta alegação demonstra apenas alienação do conteúdo da teoria.

      3) Outra alegação que envolve desconhecimento da teoria.

      Tanto Alister McGrath quanto Francis Collins estão submersos na trama ideológica e não fazem juízos corretos sobre a questão.

      Atenciosamente
      Eskelsen

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